"Eu vi o tempo brincando ao redor do caminho daquele menino"...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A história de Fulamunaíma...

Fulamunaíma era uma muié sortêra e bunita. Fía de Seu Zé Mangabeira cum Dona Maria do Rusário, casal ali do Corgo dos Furtado, vizim do Riacho Doce. Fulamunaíma era a fía caçula deles, que além dela, tiveram mais nove cumêdôzim de rapadura pra criar. Fula era o apelido que os mininu butaram nela desde que ela era bem picôtôtinha. Fula, a bichinha, era linda viu, mas era linda mermo a muié.
Era mais linda que a garota de Ipanema e muito mais fogosa que a índia Iracema. Fulamunaíma era uma morenona que tinha os cabêlu pretu e bem lisim. Fula também tinha um corpão de violão que parece que tinha mais curva que circuito de Fórmula 1. E as perna da muié, pense numas lapa de perna meu cumpadi. Ela era bem jeitósinha viu a Fula.
Mas tu sabe que muié bunita sempre tem umas coisa que num agrada muito né. Sabe aquelas muié que adora uma farra, pois Fulamunaíma era uma dessas. Fula adorava ir prum forrózim, passava a semana juntano uns trocado pra quando chegar no sábudo correr pros clube da cidade. Ela ia todo sábudo de noite e só chegava no dunmingo de manhãzinha cedo, pense numa bicha pra gostar de farrear. Fula adorava dançar cuns câboco do forró, passava a noite se esfrergando cuns hômi de lá. Ficava meia horinha cum um, passava mais meia horinha cum ôtro e a muié se esbaldava toda. Ô muié escrota era Fula minha gente.
Certo dia quem apareceu pelo forró foi Chico Malaquia, câboco fêi mas estribado, que morava pelas banda do Corgo dos Sousa. Ele apareceu lá no forró e viu Fula cum aquele corpão se rebolano pelo mêi do mundo, o câba ficô logo doido. Se impiriquetô no mêi do povo gritando "ô o mêi", "ô o mêi" que eu quero tirar uma prosa é cum essa morenona aí.
Chico Malaquia chegô bem pertim de Fulamunaíma e disse: Ô morena, tu quer quanto pra casar mais eu?. Fula cum ar de disprezo respondeu: Ôxi que eu lá sô muié de ser comprada por hômi ninhum seu câba. Depois de muita cunversa Chico Malaquia conseguiu sentar cum Fula pra eles cunversarem mió.
E num é que a Fula acabô caino nas labia de Chico, ai, ai, muié é bicho que só gosta da cédula mermo. Poisé, chegô na ôtra semana e Chico Malaquia já correu na casa de Fulamunaíma pra pedir a mão dela pra Seu Zé Mangabeira. Seu Zé falô logo: Eu dô sim a mão de minha fía, mas você trate de cuidar bem dela seu câba duma peste, que ela é minha caçula visse. Chico Malaquia correu entaunce pra igreja pra marcar o casório dos dois pombim.
Pois num é que os dois acabaram se casano mermo meu povo. E ainda tiveram dois bacurinzim pra criar, um casal de gêmio óia, um macho e uma fêma. A minina era a cara de Fula, mas o minino num tinha nada a vê cum ninhum dos dois. Chico Malaquia tava todo lesado cum essa história de ser pai, todo orgulhoso o câboco. Mas num é que o tempo foi passano e os bacurinzim foram cresceno, aí Chico Malaquia começô a perceber que os mininu num tinha nada a vê cum ele não, nem no jeito nem na cara.
Certa noite ele chegô pra Fula e perguntô: Ô minha muié, espíi isso aqui, purquiê que nossos fí num se parece nadinha cum eu hein?. E Fula respondeu: Vem cá Chico, tu acha mermo que esses mininu são teu é? O que é que tu acha que eu ia fazer todo sábudo de noite na casa de mãinha. Chico pensô um pôquim e disse: Arriégua, que agora eu percibi tudo Fula, sua fulêrage, tu ia era se esbaldar nos forró da vida né. E Fula disse: Ave, até que fim que tu discubriu né câba lesado. Tudo que eu quiria era só o teu dinhêro módi chifre.
Chico Malaquia ficô puto cum Fula e mandô ela sair da casa dele cuns bacurim que ele tinha criado pensano que era pai. "Você saia da minha casa e nunca mais apareça aqui sua quenga."- disse Chico. Óra, Fula achô foi bom, agora ela tava livre de novo pra ir pros forró sem dá sartisfação pra câba ninhum.
Fulamunaíma voltou a farrear do jeito que queria sem ter macho ninhum pra botar buneco. Fula voltô pros forró e já tava atrás de ôtro lesado pra dá o golpe.
Mas o tempo passô, a Fula invelheceu, no corpão caiu foi tudo e Fula num era mais aquele mulherão, ninguém dava mais nem bola pra Fula. Os mininu crescerum e saíram de casa e Fula, póbizinha, acabô foi na amargura, morano sozinha numa casinha ali pelas banda do Riacho Doce. Sem forró, sem Chico, sem dinheiro, sem fí e agora sem fogo pra queimar também...

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