Foi, me ensinou a ser adulto, me
jogou para bem longe e hoje estou não sei onde. Foi, me levou por campos
desertos, senti arrepio na pele e na cabeça levei protestos. Chuva na cara,
corpo molhado, paz longe da cabeça, problemas para todo lado. Corri sem rumo certo,
chorei de aflição, vivi com dificuldade, segui sem direção.
Já chegou a velhice, você foi
embora e pra mim nada disse. O tempo passou depressa, cada um foi para o seu
lado, vivemos esse tempo todo separados. Cabeças opostas, saudades distantes, lugares
desiguais, vidas constantes. Esperei para ver, vivi e não vi, esperei para crer,
acreditei e não vivi.
Com angústias, com medo, a vida
passou em segredo. Agora tudo está parado, para mim que já sou velho, já não há
mais saída nesta vida sem elo. Já fui um solitário travesso, um visionário ao
contrário. Já fui um otário às avessas que nesse verso me despeço.
“E dizem que a solidão até que me
cai bem”.
Foi, não aprendi a ser criador,
muito menos criatura, só o que senti foi dor nessa horrível aventura. Foi, voei
mas foi baixo, saí da gaiola mas sozinho não me acho. Libertou a criatura,
quebrou a gaiola, aumentou minha loucura, trouxe o que mais me assola.
Passei por tantos sinais, que nunca
me mostraram como viver em paz. Esqueci daqueles tempos de criança, se apagou
da memória toda esperança. Tempo ruim, tempo mau, tempo esse que vai chegando
ao final. Sinal errado, sinal cerrado, sinal fechado, ele nunca esteve aberto.
Verde, amarelo, vermelho.
Vermelho, amarelo, verde. Pare, atenção, não siga. Não siga, atenção, pare.
Atenção, não siga, pare. Não siga, atenção, não viva. Não viva, atenção, pare.
Pare, não viva, morra. E no final todos dizem: “ele perdeu, ele perdeu!”. E
agora mesmo eu digo: “foi, não aprendi a viver, foi, não aprendi a viver”...