"Eu vi o tempo brincando ao redor do caminho daquele menino"...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Repleto de gente

 
Foto: Bruna Marques (@brunamarques.photo)

O meu corpo carregado de gente
Não deixa que eu consiga andar sozinho
O meu corpo lotado de gente
Me impossibilita que eu ande sozinho
O meu corpo repleto de gente
Me impede de andar sozinho
 
Não é espírito, não é assombração
Não é fantasma e nem visagem
É o meu corpo carregado de gente
Que me ajuda a continuar nessa viagem
 
É o meu corpo carregado de gente
Que faz com que histórias sejam levadas em frente
É o meu corpo lotado de gente
Que faz surgir memórias em minha mente
É o meu corpo repleto de gente
Que não me deixa entender o que o coração sente
 
Não é espanto, não é maldade
Não é o medo, não é o mal
É o meu corpo lotado de gente
É o axé, é o tambor, é o carnaval
 
Com o meu corpo carregado de gente
Eu consigo andar em todos os atalhos
Com o meu corpo lotado de gente
Eu sigo bailando por todos os lados
Com o meu corpo repleto de gente
Eu vou seguindo pagando os pecados
 
Eu não sou só um
Eu sou carregado de gente
Eu sou vários
Eu sou lotado de gente
Eu sou milhão
Eu sou repleto de gente

(Janderson Oliveira)

domingo, 9 de outubro de 2022

Low profile

Low profile
No profile
Sem perfil
Sem caráter
Sem ética
E nem moral
Um simples cidadão comum
Desses que morrem no final...

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Nossa essência...

Se o essencial é invisível aos olhos, a essência está escondida dentro de cada um de nós. Mas ela pode ser revelada entre dois seres que sabem que existe um lugar, algum lugar que só nós conhecemos.
A essência pode ser revelada em conversas filosóficas que duram madrugada adentro, ela pode ser revelada numa constelação distante que insiste em aparecer no céu noturno, ela pode ser revelada em diversos versos de músicas que sempre foram ouvidas ou até mesmo em um pensamento longínquo que volta na cabeça desse menino.
E o que foi esperar uma hora em pé numa fila pra quem já conseguiu esperar por dez anos por um beijo dessa menina mulher? Foi aos gritos de toda uma legião, foi no show do Biquini Cavadão, que se confirmou a certeza daquela antiga paixão. Foram tantos momentos de desejos em pensamentos que terminaram em desejos carnais, às cinco da manhã, deitados em um sofá onde uma nova temporada da nossa história começou.
Parece que a ficha não cai, o encantamento permanece presente dentro do meu ser. Foi tanto tempo de espera, mas que tinha sempre uma certeza que tudo ia se encontrar, pois era naquele abraço que eu sempre quis estar, era naquela boca que eu sempre quis beijar, era naquele corpo que eu sempre quis me acalmar.
 
“Querendo te encontrar
Só pra falar de amor
Frases que nunca falei
Carinhos que nunca fiz
Beijos que nunca te dei
O amor que te neguei
Agora quero te dar
E te fazer feliz”
(Dominguinhos)
 
Ela toda organizada e planejada e eu todo desleixado e sem planos. Enquanto o tempo passa correndo pra você, ele caminha a passos lentos para mim. Mas afinal o que é o tempo, que há tanto tempo nos separa? Mas afinal o que é o tempo, que está o tempo todo aí para vivermos?
E pra que ir com calma, se eu posso ser exagerado? E pra que poupar esforços, se ela quer sempre é 101%? Que eu possa seguir te levando a leveza em meio à tanta preocupação, que eu possa seguir te trazendo a essência em meio à tanta obrigação e que eu possa ser verdade em meio à tanta ilusão...
 
“E nossa história não estará pelo avesso assim
Sem final feliz
Teremos coisas bonitas pra contar
E até lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás
Apenas começamos
O mundo começa agora
Apenas começamos”
(Legião Urbana)
 
P.S.: Mas cá estou eu novamente, sozinho, como há 10 anos, em madrugadas insones, fones aos ouvidos e letras embaralhadas numa tela branca, formando palavras que não dizem nada, para olhos que nunca irão ler...

terça-feira, 12 de julho de 2022

O maior problema do mundo


O maior problema do mundo
É a mercadoria,
Mas toda hora a gente consome,
Seja noite ou seja dia.
 
Com os ouvidos, com os olhos
Ou com a boca.
Ela nos invade a todo instante,
Mesmo a gente pagando grande montante.
 
Mesmo deixando a mente oca,
Ela faz parte do dia-a-dia.
Não importa quanto reclamem,
Cada um quer a sua fatia.
 
O capital
É aquele que nunca morreu.
Ele sai do meu bolso
E também sai do seu.
 
Vai tudo cair
Direto no bolso do patrão,
Enquanto o menino de rua
Segue sem comer pedaço de pão.
 
O homem é primata,
O capitalismo é selvagem.
O homem é que mata
Nessa traiçoeira viagem.
 
Mata por dinheiro,
Mata por covardia.
Mata até mesmo de fome,
Negando o pão de cada dia.
 
O lucro é que comanda
Esse mundo sem futuro.
A mercadoria é que manda,
Seja claro ou seja escuro.
 
Consumir, comprar,
Jogar fora.
A mercadoria sempre presente,
Não importa qual for a hora.
 
Tem muitos na base
E poucos na ponta.
E no final disso tudo,
Quem vai pagar essa conta?
 
(Janderson Oliveira)
 
"Vender, comprar, vedar os olhos
Jogar a rede contra a parede
Querem te deixar com sede
Não querem te deixar pensar"
(3ª do Plural - Humberto Gessinger)

domingo, 27 de fevereiro de 2022

Mate-me...

Mate-me, sentado à beira do mar, com fone alto aos ouvidos e brisa fria a bater em meu corpo, observando a minha mais bela paisagem: os verdes mares do meu querido Ceará. Mate-me, mas mate-me de verdade, para que não tenham chances de eu voltar e estragar tudo de novo. Mate-me, de um jeito que minha cabeça ainda possa ver meu corpo uma última vez ao cair, mas com um golpe rápido, seco e cruel, sem tempo para reagir, sem sentimentos para sentir, sem saber qual foi o último pensamento que raciocinei. Mate-me, numa noite nublada e triste de carnaval, em meio ao relento, sem testemunhas para me ver, sem lágrimas a cair, sem confetes para colorir, sem coveiros para me enterrar. Mate-me, deixe o mar me engolir, os peixes fazerem um banquete de mim e no outro dia o sol ressecar o que sobrou de pele, o que sobrou de couro, o que sobrou de meu ser, apenas mate-me...

domingo, 20 de fevereiro de 2022

Agora é para sempre...

 

“Reverbera
No baque virado do maracatu
A força e energia dos nossos tambores
É mais uma estrela na noite azul”
(Reverbera - Gabriel Vasconcelos / Filipe Adan)
 
Agora é para sempre, até durar a força bruta da minha pele que bate no couro firme do meu tambor. Carne, couro, pele. Morre, nasce, ressuscita. Segue batendo, batendo, batendo e o som reverberando no baque pesado do meu maracatu, enquanto o desenho vai permanecendo firme no risco fino em minha pele.
Agora é para sempre, mais um ano completo e que não vejo a hora de encontrar minha alfaia e tocá-la com toda diversão, satisfação e emoção que ela me proporciona. Baquetas, madeira, couro. Ritmos, baques, sons. Ressoa, deixa fluir, encontra outros tambores, faz uma festa no meio do terreiro, celebra com alegria a vida de todos nós e dos nossos antepassados.
Agora é para sempre, levarei o que há de mais ancestral em mim riscado em meu couro, me lembrando que transcendo quando toco Ngoma, meu pai tambor. Caixa, alfaia, bumbo. Ferro, agogô, xequerê. Levarei o meu batuque até que cheguem meus últimos dias e meu som siga ressoando universo afora, na minha mente adentro...
 
“E anunciou que a criação não iria parar, que viessem crianças, mulheres e homens para escutar o Ngoma cantar, dançar e alegrar a vida. É por isso que os bacongos dizem que Ngoma, o tambor, será o pai de todos os que transgridam a dor em desafios de festa e liberdade. Sua benção, Ngoma, nosso pai tambor! Nós estamos no mundo para celebrá-lo!”
(Tambor, o Senhor da Alegria – Luiz Antônio Simas)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Forever loneliness

You continue saying that I'm just another one who turned his back on you. But and about you? What do you do to keep the people close to you? Screams, curses, threatens? On this way you will be alone in your forever loneliness...

"But my dreams
They aren't as empty
As my conscience seems to be
I have hours, only lonely
My love is vengeance
That's never free"
(Pete Townshend)

domingo, 9 de janeiro de 2022

Será que o ifá irá me responder?

 


Envolta em teus cabelos negros,
Quantos mistérios tens para guardar?
Será que serei eu,
O sortudo que irá te desvendar?
E até mesmo que eu queira,
Será que eu ainda vou te ter?
Mesmo distantes no tempo e no espaço,
Será que o ifá irá me responder?
 
Discreta, porém bonita,
Obscura talvez ela fosse.
Te liberta de ti mesma,
Mostra para todos o teu lado doce.
Vem com um brilho na pele,
Vem com um olhar radiante,
Vem como menina de um lugar incerto,
Vem como deusa de um lugar distante.
 
Traz estampada a cara da morte,
Mas ao mesmo tempo a beleza das flores.
Pode trazer tuas mágoas
Que eu vou te libertar das tuas dores.
Deixa-me entrar no teu espírito,
Te mostrar o meu valor.
Eu sou aquele que te cuida,
O que saberá te dar amor.

Me ama em todas as redes
E em todas as camas que tiverem também.
Me encosta nas paredes
E em qualquer lugar que te convém.
No sofá, na mesa, na escada,
Onde mais queres te satisfazer?
Me afoga em teus líquidos,
Coloca pra fora o teu prazer.
 
Não deixa de sentir os sólidos,
Aquece tuas mãos em minha carne quente.
Deixa-me escrever pelo teu corpo,
Feito tatuagem que muito se sente.
Se o lápis for a minha língua
E se o papel for a tua pele,
A gente passa horas nesse jogo,
Até que o gozo se expele.
 
Então a gente volta para casa,
Como na fria madrugada.
Então a gente esquece do que passou
E recomeça nossa caminhada.
Então a gente esquenta novamente,
Como num paraíso mitológico.
Então a gente sente o que sentia,
Mesmo sendo tudo tão ilógico.

(Janderson Oliveira)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

“O coração dos aflitos pipoca dentro do peito”...

O amor é bom, mas a paixão... Ah, a paixão maltrata!
Meu coração está em muitos lugares, talvez por causa disso que eu não viva sossegado, pois estou sempre apaixonado, me errando em tantos lares. Por causa disso eu vivo estando em vários lugares fantasiosos ao mesmo tempo, seja através de bons sonhos, seja em pensamentos irrealizáveis ou então em desejos que nunca acontecerão. Isso é um carma, mas nunca uma perfeição.
Meu coração viaja por tantos cantos, ele está na cicatriz daquele rosto, naquela face bonita que se foi de repente, na amizade que ficou e fez o sentimento bom continuar, na pequena de alma gigante que sempre me encanta, na voz distante que eu insisto em escutar, no sorriso de menina que sempre traz boas sensações, na loucura maravilhosa que insiste em permanecer, nos cabelos que o vento rapidamente soprou daqui, nas novidades semelhantes que acabam de chegar. Mas no final, ele está é aqui solitário a pipocar.
Um pedaço em todo lugar, mas o todo em lugar nenhum. Fragmentado, ele leva toda a culpa. Mas já é sabido que a confusão toda, na verdade, é provocada pelo sistema límbico.

“O sistema límbico é um conjunto de estruturas localizadas no cérebro, abaixo do córtex e responsável por todas as emoções e sentimentos. A grande função do sistema límbico nos seres humanos é coordenar as atividades sociais que possibilitam a manutenção da espécie através de sua vida em sociedade. Desenvolver relações que permitam uma vida em comunidade dependem da atividade dos neurônios localizados nessas estruturas”. 

Tá vendo? Pobre coração, sempre sai como bode expiatório. A vida tem dessas coisas, tudo sempre é contraditório.
“Coração bobo, coração bola, coração balão”. O meu coração é bobo, mas é bom. Ele é besta, mas ele presta. Ele voa, mas sempre volta. Onde ele vai achar moradia, afinal? Quem está com a chave certa para trancá-lo de vez? Ou seria abri-lo de vez? Quem está com o pote para reunir cada pedacinho espalhado por aí? Já está na hora dele buscar sua certeza ou é melhor ainda se deliciar pelas incertezas do caminho? É melhor ter um coração livre, espalhando carinho ou um coração preso a um único ser? Enquanto sigo a me perguntar, eu sigo sozinho a viver...