"Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha
morada.
Mas dizei uma só palavra e meu servo será salvo."
(Mateus 8,8)
É hora de despedir-me do céu, voltar ao meu mundinho de
choros e consequências. Já cansei de ouvir as batidas do meu próprio coração,
já sei todas as suas músicas, todos os seus ritmos. Lá embaixo que é o meu
lugar, foi bom o tempo que fiquei por aqui entre nuvens e anjos, paz e harmonia, silêncio e meditação, mas agora é hora de partir. É hora de despedir-me, voltar lá pra baixo, para o
meu mundo, para a minha natureza selvagem.
Agora eu preciso rasgar o bucho do céu e voltar para o meu
lugar. Talvez alguns poucos infelizes possam seguir o meu mesmo caminho de volta.
Enquanto isso, Jesus faz o caminho de volta ao céu e com Ele seguem apenas os bons, aqueles
que são dignos de entrarem em Sua morada. Aí na Terra está a galera que ficou para trás, seres imperfeitos que não têm direito à morada divina e eu tenho certeza que aí é o meu lugar. Sou profano demais para merecer tal honraria de passar o resto dos meus dias no céu, sou "humano demais, divino de menos" para essas coisas.
"E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvez que nóis dois ficasse
Tarvez que nóis dois caísse
E o céu furado arriasse e as virge toda fugisse"
(Ai se sesse - Zé da Luz por Cordel do Fogo Encantado)
"No castelo dos destinos cruzados
O viajante que chegou pode ser você
Eu fiz de tudo que eu pude para te esquecer
A morte vive aqui do lado só que a gente não vê
Uma pessoa que ficou perdida
Uma pessoa que caiu do céu
Uma pessoa que você já conhecia
Muito antes de nascer e que você perdeu"
(O castelo dos destinos cruzados - Engenheiros do Hawaii)
Eu
estava lá de intrometido, como sempre sou, pois estou sempre querendo tirar
vantagens em cima de todas as situações e de todas as pessoas que me agradam. Mas me libertei e caí aqui de volta, e, apesar de tudo, aqui embaixo que é bom. Nossas imperfeições, nossos defeitos,
nossos traumas, isso que vale a pena. Lá em cima é tudo muito chato, é tudo muito
tranquilo, é tudo muito da paz, e tem uma hora que a gente cansa disso tudo e
prefere ficar na luta diária do plano terrestre.
"Por que não fala
também?
Por que parece não me
ver?
Por que me faz pensar
assim?
Por que...
Deixa pra lá
Fico com essa dúvida
Até você voltar."
(Conversas paralelas -
Rebeca Moura)
2 comentários:
Belo texto!!!
Créditos na citação :D
os créditos já estão lá bem dados queridinha :P
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