“- Alô?
- Oi!
- Ele está morto!
(...)
- Vovó, ele está morto, ele está morto!”
(Momentos de choro, falta de sentido e tentativas de
explicação)
Era 12 de novembro e talvez esse deva ter sido o diálogo
entre alguém que estava do outro lado da linha, o meu irmão e a minha avó. Eu
estava ali naquela sala, só observando e analisando toda a situação.
Já faz mais de 20 anos, mas a história que foi mais ou menos
desse jeito aí, não sai da minha cabeça. Apesar do teor dramático, na minha
mente era só mais uma viagem que se dava início.
A lembrança ainda está presente em minha memória: a alegria
de ver gente se reunindo em minha casa para mais uma viagem à cidade natal de
toda a família. Era fim de ano e eu achava que estávamos indo para as férias
naquela cidade do litoral do Ceará, porém, dessa vez, iam mais pessoas do que o
habitual.
Fomos na traseira de um carro grande, protegidos por uma
cabine. Dentro, cabiam eu, meu irmão, além de primos e tios. Outros carros iam
acompanhando numa espécie de cortejo. Não entendia muito bem, mas eu ainda
seguia feliz em ver tanta gente se reunindo para passar férias conosco. Da
viagem me lembro pouco, as falhas na memória não me deixam explicitar o que
aconteceu no caminho. Recordo-me apenas dos momentos já na cidade e da
inocência que tinha uma criança de 5 anos.
A igreja daquele lugar estava em frente à casa dos meus
avós. Da porta da sala de estar, dava para ver o grande número de pessoas que
iam se aglomerando perto do templo. Eu só fui entender o motivo daquela reunião
quando um carro comprido estacionou ao lado da igreja, nele vinha meu pai
velado em seu caixão. Só então a ficha foi caindo e as lágrimas em meu rosto
também caem até hoje.
Como eu era bem criança não tive coragem de ir dar um
último tchau, mas pelo menos fiquei com a esperança de que um dia a gente ainda
poderia se encontrar para a despedida. O que mais me marcou foi a quantidade de
gente que foi dar adeus a ele, o que mostra o quanto aquele homem devia fazer
bem às pessoas.
“Então vamos viver, um dia a gente se encontra”. A viagem
não foi das melhores, as férias foram falsas, mas a história não pode e nem
deve ser esquecida. E hoje é o dia que marca não o fim da viagem, mas o início de
outra. Hoje marca o início da viagem dele na Terra, se ainda estivesse por aqui
estaria completando 59 anos.
Enquanto isso, eu sigo na minha viagem, com as pessoas ainda
afirmando que sou a cara do pai e meu caráter também coincide com o dele. Pois
pronto, sigo a viagem por ele, esperando que ela não termine tão bruscamente. E
sigo aceitando isso, que sou a cara do pai, e o coração também...
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