"Eu vi o tempo brincando ao redor do caminho daquele menino"...

sábado, 13 de agosto de 2011

Conversando comigo mesmo...

E eu sigo a filosofar comigo mesmo ou será com alguém que já esteve aqui comigo? No meu sonho ele veio me dizer:

─ Filho, essa vida é muito curta pra viver, olha o meu exemplo, fui atrás do pão para alimentar você e o seu irmão, mas vacilei e voltei pra casa embrulhado, e vocês não puderam mais ficar ao meu lado.
─ Calma pai, já entendi o seu recado, não adianta eu ficar aqui parado, preciso aproveitar o máximo essa vida, afinal, temos apenas uma para ser vivida. Já li certa vez por aí que "a morte seria um tédio caso não houvesse vida", mas por que nela há tantas feridas?
─ É filho, eu te digo mais, a vida seria um tédio se não fossem suas feridas. São elas que nos ajudam a continuar vivendo, são elas que nos dão aquele gás pra seguir em frente, ajudando gente. Cada pessoa com suas feridas, com seus problemas, todos os caminhos são diferentes, pena que no final todos vão dar no mesmo lugar.
─ Pô, sempre me pego a pensar naquelas velhas questões: Quem sou eu? De onde eu venho? Pra onde eu vou? Quem é esse povo do meu lado? Pra que eles servem? Pra que tudo isso servirá? Por que não se explode logo tudo? "Ah, morre diabo!".
─ (Risos) Calma filho, não adianta ficar se perguntando essas coisas. Pra quê? Ah, não precisa saber as respostas disso aí não, só continua vivendo, levando numa boa, no final tudo vai se acabar, mas essas perguntas vão continuar aí, para sempre.
─ Mas ninguém pode viver e nem morrer sem motivo, pai. Tem uma corrente filosófica, o existencialismo, que diz que cada um é mestre dos seus atos, faz da sua vida o que quiser. E sabe pai, já escolhi o que quero na minha vida, a minha meta é o amor ambulante, já a minha morte, nem pensei, nem quero pensar. Só acho que depois de morrer acaba tudo, não acontece mais nada.
─ Filho, não posso te falar nada sobre isso, é o segredo universal, mesmo eu que estou aqui não posso comentar nada sobre isso.
─ Sabe pai, quando eu morrer, se acaso um dia eu morra, não quero ser exposto aos olhos dos outros e nem às moscas, muito menos quero flores ao meu redor, nem lágrimas caindo dos rostos.
─ Acho que tudo isso que você não quer foi exatamente o que aconteceu comigo filho, você lembra?
─ Não, desculpa, mas eu não tive coragem de ir te ver naquele estado. Talvez medo, talvez covardia, mas o certo é que não queria ver meu pai daquele jeito.
─ Certo filho, eu te compreendo, você ainda era muito criança pra entender sobre essas coisas de vida e morte. Não se preocupe com isso.
─ OK, pai. Só sei que vi quando chegaram com você à igreja, também lembro que a igreja ficou lotada para darem um último adeus a você, você era uma pessoa muito querida. Como eu não fui me despedir, sempre fiquei com a esperança de que um dia podia te ver novamente e conseguir me despedir de você.
─ Oh filho, aqui estou eu, mas não quero adeus, a gente vai se ver mais. Mas esquece isso, me conta mais desse tal amor ambulante que você falou agora a pouco.
─ Então pai, a minha meta é o amor ambulante, ou seja, o meu objetivo é propagar o amor pelo mundo, espalhar alegria e felicidade para o máximo de pessoas que eu puder. Ser feliz e fazer muitas pessoas felizes, e no final poder partir em paz, sabendo que têm diversas pessoas que gostam de mim, assim como gostam de você. Mas não quero propagar o amor falso, sabe pai, hoje em dia é muito fácil as pessoas dizerem que se amam, mas o difícil é elas realmente agirem e mostrarem esse amor.
─ Quanto orgulho eu sinto filho, mesmo com tão pouco tempo vivido com você, com tão pouco tempo que tive pra te ensinar alguma coisa, ainda bem que você conseguiu seguir um rumo certo, o rumo do bem. Agora pra embaralhar um pouco tua cabeça eu te pergunto, o que é mais difícil, você amar um milhão de pessoas ou um milhão de pessoas amar você?
─ Opa, deixa eu analisar um pouquinho. Hummm. Bem eu acho que é muito mais fácil eu amar um milhão de pessoas, apesar de saber que isso nunca venha a acontecer.
─ É meu filho, é mais fácil sim. E não precisa um milhão de pessoas te amar, basta você amar o máximo de pessoas que puder, basta você saber que pode fazer o bem para o máximo de pessoas que conseguir, basta você saber que pode e deve respeitar a opinião de cada uma delas, dessa forma você já vai amá-las.
─ É sim pai. Sabe uma frase que criei, é assim: "não acredito em nada, por isso respeito tudo", sou um cara bem cético, mas respeitador. Apesar de ter diversas questões a me incomodar, não acho que seja muito provável que elas são respondidas da forma que a maioria das pessoas pensam, no entanto, respeito a opinião e a crença de cada um.
─ É, e devemos viver sempre acreditando em algo, mesmo que esse algo seja nada. Contra qualquer afirmação ou negação, eu prefiro o talvez. Sou, ou era, assim como você, não ficava muito tranqüilo com afirmações ou negações absolutas, prefiro passar o tempo me questionando, duvidando, do que não ter nada pra pensar sobre.
─ Opa, então esse fator é hereditário pai.
─ (Risos) É sim filho!
─ Uma antiga escritora disse uma vez, pai: "morrer é do maior risco, não saberei passar para a morte e pôr o primeiro pé na primeira ausência de mim". Mas afinal, para que serve a morte pai?

Acordei ainda sussurrando as palavras "pai, pai, pai..." e ouvindo aquele bom som da sua risada. Ah, mas que pena, realmente era só um sonho, nem me despedi dele, ele nem respondeu essa minha última pergunta, será que ele aparecerá de novo? Pelo menos depois de tanto tempo eu pude, pela primeira vez que lembro, ter um diálogo com ele, mesmo que num contato onírico. Será que aquela pessoa realmente era meu pai? Será que aquela voz realmente era a sua? Como vou saber, os sonhos sempre deixam essas dúvidas. Ah, mas sonhos são só sonhos! Não importa, esse foi mais do que especial, vai ser lembrado pra sempre, quem sabe venham outros e eu possa descobrir o que mais nós temos em comum...

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