"Eu vi o tempo brincando ao redor do caminho daquele menino"...

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Zambi quer bailar


Foto de Tiago de Melos (@tiagodelemos)

Xicarangomo, toca tambor pra Zambi
Com a fala do instrumento lhe chame
Anuncia que vai começar o xirê
Coloca sorriso na cara do erê
           
Joga para longe o banzô
Toca mais forte o tambor
Afasta de mim o lundu
Batuca para nós o maracatu
 
Zambi quer bailar
Vai sacudir bem o corpo
Mexer bem as cadeiras
Até perder as estribeiras
 
Adarrum, aguerê, alujá
Samba, coco, ijexá
Qualquer coisa que o tambor ressoar
Toca logo, que Zambi quer bailar

(Janderson Oliveira)

domingo, 6 de julho de 2025

Mãos delicadas/calejadas...

 Mestre Albino do Coco de Volta Redonda, em Paracuru (CE)
Foto de Bruna Marques (@brunamarques.photo)

É preciso mãos delicadas para se tocar um instrumento.
É preciso mãos calejadas para se tocar um instrumento.
Mãos calejadas da lida, mãos calejadas da vida, mas a delicadeza que só tem nas mãos de quem toca um instrumento.
E aquele menino que aprendeu a usar as mãos escutando o som das primeiras notas na rabeca ao pé do ouvido, se transformou no Mestre que puxa a cantoria que se estende ao longo da noite.
É ele quem mantém a cultura popular do forró, do coco e da embolada viva e que vai passando de geração em geração.
O tempo também vai passando e mais gente se admirando com o som daquele instrumento.
E aquelas mãos?
Aquelas mãos vão envelhecendo cada vez mais calejadas... e delicadas... e calejadas... e delicadas...

sexta-feira, 4 de julho de 2025

O meu amor é fluido

O meu amor é fluido
Ele transborda pra vários lugares
Feito muitos braços de rio
Ele molha várias paisagens
 
Viaja desde a nascente
Corre quente de cima até embaixo
Percorre vários canais
Faz um mar onde antes era riacho
 
O meu amor é fluido
Ele transborda pra todos os lados
Molha montes e florestas
Banha cachoeiras e lagos
 
Brota da fonte primitiva
Flui pelo leito encharcado
Na beirada do abismo
Penetra no vale encantado
 
O meu amor é fluido
Ele só quer desembocar
Na tua beira de rio
Ele só quer se derramar
 
Passa por caminhos e curvas
Escorre por picos e montanhas
Mas no final sempre desemboca
Lá onde toda a vida se banha

                    (Janderson Oliveira)

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Jesus tem o rosto de mulher

Jesus tem o rosto de mulher
E ela é negra
Jesus é a cara de Maria
Maria de Nazaré, Maria das Dores, Maria das Graças
E de tantas outras mulheres que só vivem na desgraça
E Jesus tem a cara de todas elas
Sejam das periferias, sejam das favelas
Mulheres mães, mulheres meninas
Mulheres trans e até não femininas
Menina mulher da pele preta
Desde nova não tem medo de careta
Menina, mulher, Maria que nos pariu
Todas elas têm a cara do Brasil
Metade do mundo é formado por elas
E a outra metade são os filhos delas
Então por que deixá-las com tanta dor?
Então por que recusar-lhes o amor?
Volta Jesus, vem tuas filhas salvar
Ensina aos homens que a elas devem amar
Volta Jesus, que o negócio deu errado
Ensina aos que ficaram como se foge do pecado

                                                  (Janderson Oliveira)