"Eu vi o tempo brincando ao redor do caminho daquele menino"...

domingo, 2 de outubro de 2011

Que saudades

Ai que saudades que sinto de não sei quem.
Que falta me faz aquele rosto que não vi.
Como me faz sofrer aquela luz que não acendi.
Que saudades tenho daquele passo que não dei.
Daquela música que jamais toquei.
Que falta me faz aquele poeta que não li.
Aquele beijo que não recebi.
Como me faz sofrer aquela beleza que não encontrei.
Que saudades que sinto daquela brincadeira que não participei.
Daquele jogo que nunca joguei.
Que falta me faz aquele sorriso que não fiz.
Aquele abraço que não quis.
Como me faz sofrer aquela frase que não disse.
Ai que saudades que sinto do calor que não aqueci.
Que falta me faz o mundo que não conheci.
Como me faz sofrer aquela vida que não vivi.

(Janderson Oliveira)

A chance...

Eu sigo escrevendo para ninguém ler, cantando para ninguém ouvir, atuando para ninguém ver, amando para ninguém sentir. Como um velho Dom Quixote que luta por causas já perdidas, como um louco que grita para surdos, como um palhaço que se apresenta para cegos, como uma flor jogada para mortos. 
Muitos dirão que foi tudo em vão, me chamarão de tolo que já perdeu todo o ouro. Eu lhes digo que é da cabeça dos tolos que saem as maiores riquezas, se não pra agora, pra esse momento, pra esse mundo, pra essas pessoas, talvez para as gerações que virão. 
Dizem que a gente só começa a dar valor depois que perde, pois que eu perca agora para ganhar depois. Dizem que a gente só começa a dar amor depois que perde, pois que eu perca agora para ganhar depois. 
Só agora entendo o que Renato Russo insiste em dizer na música “Índios”, em que ele sentia saudade de tudo aquilo que ainda não viu, eu vou além e digo que eu sinto não apenas saudade daquilo que ainda não vi, mas também do que ainda não vivi. Saudade daquele vôo de asa-delta que nunca fiz; saudade de colocar mochila nas costas e sair caminhando estrada afora feito Alexander Supertramp; saudade de ter minha banda e gritar as minhas idéias para multidões que nunca vi; saudade de ter meu filho que ainda não chegou, doce como qualquer outro rosto de criança que nunca vi. 
Só agora entendo a síndrome de FOMO (Fear of Missing Out) que Humberto Gessinger cita nos seus “Poemas com notas de rodapé”, é o medo de perder, medo de perder a oportunidade, medo de perder a hora, medo de perder a vez, medo de perder a chance. 
Só agora entendo a dica que Geraldo Vandré deixa na música “Pra não dizer que não falei das flores”, temos que fazer a hora, agora, não esperar acontecer. Não podemos perder a oportunidade, a hora, a vez, a chance, só temos essa chance. Carpe diem
Uma única vida para ser vivida, a única chance de fazer as flores vencerem o canhão. A gente só tem essa vida mesmo e cada um faz o que bem quiser com ela. Mas da vida só não quero levar flores, muito menos lágrimas, talvez leve conhecimento. 
Mas pra que conhecimento depois de morto, se de nada adiantará? De que adianta saber a causa da morte, se já estarei morto? E depois que isso acontecer não quero ser exposto a moscas e aos olhos dos outros, ainda mais trancado dentro de um caixão, prefiro ser cremado e jogado seja lá onde for conveniente. Também não vou querer flores, “quem é que quer flores depois de morto? Ninguém”. 
Só sei de uma coisa, essa é a nossa única chance, temos que agir agora, sem medo, com ousadia. Essa vida é muito curta, a gente tem que passar nela e deixar alguma coisa feita, porque depois a gente morre e ninguém deixa nada pra gente, a não ser as mesmas velhas flores...